Os pórticos que se estendiam
entre as portas, no interior do muro do períbolo, diante das salas do
Tesouro (gazophulakíon),eram suportados por belíssimas e altíssimas
colunas. Eram simples (=tinham uma única fila
de colunas) e, exceto na dimensão, nada cediam aos pórticos de
baixo.
9 das portas eram
inteiramente revestidas de placas de ouro e de prata, incluindo as pilastras e
os lintéis. (A porta exterior ao templo, feita de bronze coríntio, era de um
valor bem maior que as que estavam revestidas de prata e de ouro).
Após a entrada, estes
portais alargavam-se, no interior, de um lado e do outro (par' hekáteron),
em êxedras com o comprimento e a largura de 30 côvados, com aspeto de
torres, com a sua altura de mais de 40 côvados. 2 colunas de 12 côvados de
perímetro sustentavam cada uma das êxedras. As
dimensões dos outros portais eram as mesmas, mas o que permitia passar do átrio
das mulheres para lá da Porta de Corinto, e que se abria a oriente, frente à
porta do templo, era muito maior, com os seus 50 côvados de altura, os
seus batentes de 40 côvados e a sua sumptuosa
ornamentação, onde se havia prodigalizado espessos revestimentos de prata e de
ouro. Ouro, Alexandre, pai de Tibério, espalhou-o sobre as outras 9 portas. 15
degraus mais baixos que os 5 degraus dos outros portais
conduziam do períbolo do átrio das mulheres a esta porta maior.
Do
lado ocidental, o muro foi «construído todo seguido» = «construído sem
interrupção», porque não tinha porta. As interrupções do muro do períbolo
interior eram, portanto, as portas, com as pilastras destas. Talvez as
pilastras das portas fossem as únicas pilastras deste muro.
Como Josefo fala
dos «pórticos entre as portas, frente às salas do Tesouro», e como o
espaço entre o muro ocidental e a Rocha Sagrada não permite construções muito
largas, é de supor que, deste lado, o períbolo interior apenas tivesse um muro,
sem pórticos nem salas.
Jo
8, 20: «[Jesus] disse estas palavras no Tesouro, ensinando no
templo». Este capítulo 8 do Evangelho de S. João inclui o episódio da
mulher adúltera, que não seria levada para além do átrio das mulheres. Em todo
o caso, o átrio dos homens não devia ser muito prático para discutir o que quer
que fosse.
A Mishnáh situa 3
salas a norte e 3 salas a sul do átrio dos sacerdotes, mais 4 nas extremidades
do átrio das mulheres e mais uma de cada lado da Porta de Nicanor (porta
oriental), num total de 12 salas (Uma por cada tribo de Israel?) (Mid 1,
4; 2, 5; 5, 3-4). Trata-se, em grande parte, de extrapolações de Ez
40, 38-46; 42, 1-14 e 44, 15-19. O número de 12 salas encaixadas entre as
êxedras é o que se obtém, ao traçar a planta do períbolo interior com os dados
de Josefo, mas aMishnáh atribui-lhes funções rituais, que nada têm a ver
com as de salas do Tesouro, o que já o contradiz e aos Evangelhos. Chega ao
ponto de situar aí a sala do Sinédrio, sem lhe atribuir medidas que lhe
permitam tal função. Josefo, com efeito, situa as salas dos sacerdotes
(os pastofórios) no(s) ângulo(s) sul do átrio exterior.
Convém confrontar esta
descrição com os planos do Heródion, dos «Túmulos dos Reis» no vale do Cédron,
do Panteão de Roma, do templo do Sol em Baalbec, de pórticos diversos de ágora
(fórum), etc.
As
colunas do períbolo de baixo mediam 25 CV. A altura interior do períbolo
superior era de 25 CV. Descontando a altura do entablamento a estes 25 CV, as
colunas do períbolo superior só podiam medir 20 CV (= 4/5 X 25 CV); por isso,
eram inferiores nas dimensões às dos pórticos de baixo. Se os pórticos do
períbolo superior só eram diferentes dos do períbolo de baixo nas dimensões,
deduz-se que também eram arquitetonicamente da ordem toscana (ou
dórica-romana).
a) Se cada batente medisse
15 CV de largura, as portas mediriam 30 CV de largura, o que não é possível,
pois elas«alargavam-se, no interior, de um lado e do outro, em êxedras com o
comprimento e a largura de 30 côvados.
b) Se as portas medissem 30
CV de largura (13,32 m), teriam de ter um pilar no meio e seriam portas duplas.
Como as êxedras mediam 30 CV de comprimento e de largura, o pilar tinha de ser
descontado à largura dos batentes; o que torna impossível cada batente medir 15
CV de largura.
Os batentes destas portas
mediam 30 CV de altura e o muro media 40 CV (sem contar com as ameias). Os 10
CV de diferença (1/4 da altura) não equivalem à altura clássica do entablamento
romano (1/5 da altura). Os lintéis e as pilastras (ou os montantes) das portas
eram destacados do resto do muro, por serem revestidos de ouro e de prata, tal
como os batentes. Há 2 hipóteses alternativas, das quais nos inclinamos para a
primeira, por estar mais em conformidade com a lógica da arte greco-romana:
a) O muro teria um
entablamento de 8 CV de altura (1/5 X 40 CV), tal como as êxedras do interior.
Os lintéis das portas seriam troços salientes do entablamento do muro,
suportados por 2 pilastras por cada porta. Essas pilastras talvez tivessem
capitéis coríntios. Por cima e dos lados dos batentes das portas, haveria
ombreiras e montantes, que não ultrapassariam os 2 CV de largura (em cima e dos
lados). Um vestígio de uma ombreira ou de um montante, descoberto entre as
ruínas do templo, encaixa nessa medida, já que mede cerca de 50 cm de largura,
embora não tenha a largura completa.
b) O muro seria rematado
apenas por uma cornija de 2,5 CV de altura, e as portas teriam lintéis de 7,5
CV de altura, com ombreiras salientes lateralmente no topo, em forma de T. Em
antigas sinagogas e em antigos túmulos judaicos, são vulgares essas portas.
Junto ao ângulo sudoeste do templo, foi encontrado um fragmento de uma ombreira
como essas, de uma porta do períbolo exterior, mas nada nos garante que as
portas do períbolo interior eram assim, até porque o outro fragmento,
anteriormente citado, é demasiadamente estreito, mesmo não incluindo a largura
total. Admitindo esta hipótese, o muro teria um aspeto demasiadamente maciço
para fazer parte da obra mais importante dos Judeus.
Em todo o caso, é habitual
monumentos da Palestina da época greco-romana não obedecerem a grande rigor
clássico, nomeadamente nas proporções, sendo habituais entablamentos que ocupam
muito mais do que 1/5 da altura.
As êxedras,
compartimentos normalmente semicirculares, com assentos construídos em torno,
eram frequentíssimas nos edifícios greco-romanos. Tinham, habitualmente, duas
colunas. O Heródion também tinha 2 êxedras semicirculares, cada uma delas com 2
colunas. Também os túmulos do vale do Cédron têm 2 colunas em cada face e
pilastras de ângulo.
Josefo diz que todas as 10
portas deste períbolo tinham êxedras, como é lógico. A Mishnáh só
fala de uma, a norte do átrio dos sacerdotes. (Mid 1, 5-8; 2, 5; 5, 3-4).
(Cf.: Ez 40, 44-46) A única êxedra que Josefo diz ter tido uma torre
por cima (= uma câmara alta) é a êxedra oriental do átrio das mulheres.
Ao dizer «com aspeto de
torres, com a sua altura de mais de 40 CV», talvez Josefo se refira ao
parapeito sobre a cornija, porque é difícil imaginar as cornijas das êxedras
desniveladas dos 40 CV da altura da muralha. É plausível a existência dum
telhado pouco inclinado sobre as êxedras, em vez dum terraço suportado por
traves de madeira, cobrindo uma extensão de 30 CV por 30 CV (13,32 m por 13,32
m). Esse telhado sobre as êxedras seria, muito possivelmente, em 4 vertentes,
como era próprio de torres. (Conf. com os túmulos do vale do Cédron). Os
guardas das portas do templo poderiam, mesmo assim, caminhar em torno desse
telhado, sobre o muro, provido de um parapeito em torno, como é próprio de
muitos castelos. O acesso ao cimo seria por escadas redondas inseridas na
espessura das paredes. (Cf.: Mid 2, 9; 5, 3).
A versão
latina diz: «de 40 côvados de largura, com batentes de medidas
iguais (a esta)». A largura dos batentes não é referida, talvez por
terem a mesma largura dos restantes: 15 CV para os dois batentes em conjunto. A
diferença de altura entre 50 CV e 40 era, evidentemente, a altura do
entablamento (1/5 X 50 CV).
Tem interesse confrontar o
plano do templo de Jerusalém com os planos dos templos egípcios: nestes,
aparece uma porta muito alta de entrada, mais alta que os pórticos interiores
que cercam o átrio, orientado para um muro com uma porta ao centro, frente à
anterior. Para além deste muro e desta segunda porta, fica a fachada dos
compartimentos interiores, reservados aos sacerdotes. Estes compartimentos
interiores, são, por vezes, alinhados em forma de T.
Se os 5 degraus que
conduziam às 9 portas do períbolo tivessem 0,5 CV ( =1 palmo) de
altura (Mid 2, 3; 3, 6), os 15 degraus da Porta Coríntia teriam 1 mão
de altura (= 1/3 X 1 palmo).
Se estes 15 degraus ocupavam
uma altura equivalente às dos 5 degraus das restantes portas (5 X 0,5 CV = 2,5
CV = 1,11 m), não é de acreditar que o templo de Herodes tivesse os
compartimentos que a Mishnáh situa por baixo do átrio dos homens, que
nem sequer eram lugares apropriados para guardar instrumentos
musicais. (Mid 2, 5-6) Sabemos, no entanto, que o templo tinha
subterrâneos.
Diz o apócrifo Livro do
Nascimento da Bem-aventurada Maria e da Infância do Salvador (Evangelho do
Pseudo-Mateus), IV: «Cumpridos 9 meses, Ana deu ao mundo uma filha e chamou-a
com o nome Maria. Quando a desmamou, ao 3.º ano, Joaquim e ela dirigiram-se ao
templo do Senhor, e, tendo oferecido vítimas ao Senhor, apresentaram-lhe a sua
filhinha Maria, para que ela habitasse com as virgens que, noite e dia, cem
cessar, louvavam a Deus. Quando foi conduzida diante do templo do Senhor, Maria
subiu a correr os 15 degraus, sem olhar para trás e sem reclamar os seus pais,
como fazem todas as criancinhas. “E isso tocou de espanto toda a assistência, a
tal ponto que até os sacerdotes do templo estavam admirados».
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