sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Cesareia



Ele tinha notado à beira-mar, um lugar totalmente próprio para a fundação de uma cidade: era um lugar outrora chamado Torre de Estratão.

Ergueu um grandioso plano da própria cidade e dos seus edifícios e construiu-a inteiramente, não de quaisquer materiais, mas de pedra branca. Ornou-a de palácios sumptuosos e de monumentos para uso do público; e, que foi o mais importante e exigiu mais trabalho, proveu-a de um porto, perfeitamente abrigado, tão grande como o Pireu, com margens de desembarque no interior e uma segunda doca.

O mais notável na construção desta obra foi que Herodes não encontrou nos próprios lugares nenhuma facilidade para o levar avante, e que não pôde ser acabado senão com materiais levados de fora, com grandes custos.

A cidade, com efeito, situa-se na Fenícia, na rota marítima do Egito, entre Jope e Dora, pequenas marinas, de acesso difícil por causa do regime dos ventos de sudoeste, que chegam de longe carregados de areia de que cobrem a costa, entravam o desembarque, de tal forma que o mais frequentemente os mercadores são obrigados a lançar a âncora em pleno mar. Herodes remediou os inconvenientes deste regime: traçou o porto de forma circular, de forma que grandes frotas possam ancorar muito perto da costa, imergindo, para este efeito, rochedos enormes até a uma profundidade de 20 braças. Estes rochedos tinham na maior parte 50 pés de comprimento, pelo menos 18 de largura e 9 de espessura, alguns mais, outros menos. O dique, construído sobre estes fundamentos, que ele projetou no mar, tinha um comprimento de 200 pés. Metade dele, verdadeira muralha contra o mar alto, era destinada a sustentar o assalto das ondas que aí se vinham partir de todos os lados; chamou-se, pois, quebra-mar. O resto sustentava um muro de pedra cortado de intervalo a intervalo por torres, a maior das quais se chama Druso, belíssima obra, que tirou o seu nome de Druso, enteado de César, morto jovem. Construiu-se uma série de abrigos abobadados para servir de refúgio aos marinheiros. À frente, traçou-se uma larga margem de desembarque, envolvendo no seu contorno todo o porto e oferecendo um passeio encantador. A entrada e a abertura do porto encontravam-se expostas ao vento do norte, que é o mais favorável.
Na extremidade do quebra-mar, à esquerda da entrada, elevava-se uma torre bem cheia (de pedras?), podendo opor uma forte resistência. À direita erguiam-se, ligados entre eles, 2 enormes pedestais, maiores que a torre à frente.

Todo o circuito do porto é uma sucessão ininterrupta de construções feitas de pedra cuidadosamente polida. No centro fica uma colina, sobre a qual se construiu o templo de César, visível de longe pelos navegadores e que encerrava as estátuas de Roma e de César.
A própria cidade recebeu o nome de Cesareia. É notável pela qualidade dos materiais empregados e pelo cuidado aplicado na construção.

Os subterrâneos e os esgotos construídos sob a cidade não foram menos cuidados que os edifícios construídos por cima deles. Uns, espaçados a intervalos regulares, chegavam ao porto e ao mar; outro, transversal, reuniu-os todos de forma a levar facilmente as chuvas e as imundícies, e a permitir ao mar, quando é empurrado pelo vento de longe, a estender-se e a lavar por baixo a cidade inteira.

Herodes construiu, também, um teatro de pedra e, a sul do porto e atrás, um anfiteatro que podia conter um grande número de espetadores e que era perfeitamente situado, com vista para o mar.

A cidade foi terminada em 12 anos, porque o rei não sofreu nenhuma interrupção nos trabalhos e não poupou nenhuma despesa.


(A. J. XV, Cap. IX, 6. 331 - 341)

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