Os Dois Heródions
Mas, se ele assim fez passar à eternidade os seus
próximos e os seus amigos, também não negligenciou o cuidado da sua própria
memória: restaurou as fortificações de um lugar situado na montanha do lado da
Arábia, e chamou-o com o seu próprio nome, Heródion, enquanto
a colina artificial, em forma de mama, a
60 estádios de Jerusalém, recebeu dele o mesmo nome, mas ele pôs mais requinte
a embelezá-lo. Foi assim que ele cingiu o cume com torres redondas e guarneceu
toda a cerca com luxuosos apartamentos régios; de tal forma que não somente os
edifícios ofereciam um espetáculo magnífico, por dentro, mas também a riqueza
estava espalhada em profusão em revestimentos exteriores dos muros, em ameias e
em coberturas.
Fez vir de longe, com grandes despesas, toda a água
necessária. Arranjou o acesso do palácio por uma escada de 200 degraus de um
mármore muito branco, porque a elevação era considerável e inteiramente
artificial.
Ao pé da colina, construiu outros edifícios régios, aptos
à intendência e ao alojamento dos seus amigos; de tal forma que este reduto,
pelo facto de ser provido de tudo, dava a impressão de uma cidade, mas pelo seu
perímetro restrito, a de um palácio.
(B. J. Liv. I, 419 - 421)
Construído como recordação da sua
vitória sobre os Judeus aliados dos partos, a alguns quilómetros a SE de Belém,
e bem visível desta mesma cidade. Herodes foi sepultado neste Heródion.
A gruta tradicionalmente considerada como sendo o local
do nascimento de Jesus situa-se na extremidade oriental do topo de uma colina
virada para o Heródion. É uma gruta cavada na rocha, medindo 12 m de
comprimento no sentido E-O, 4 de largura e 3 de altura. A manjedoura é
assinalada a SE, numa pequena reentrância.
O Heródion, segundo o que as escavações
mostram, era um castelo redondo, situado no topo de uma montanha redonda.
Consistia em duas muralhas paralelas, uma dentro de outra, circulares, ligadas
entre elas por vários andares de dependências, e 4 torres redondas em torno,
orientadas para os 4 pontos cardeais. Das 4 torres, 3 eram baixas, talvez da
altura das muralhas duplas, e semicirculares, enquanto a torre oriental,
circular, era alta. No interior do castelo, havia mais dependências, incluindo
uma sala de 4 colunas, um balneário e um peristilo retangular, de 27 m de
comprimento (= 60 CV) no sentido N -- S, encostado à torre oriental, provido de
2 êxedras, uma em cada extremidade, com 2 colunas cada uma. Supõe-se que as
muralhas duplas e as três torres semicirculares tivessem 4 ou 5 andares, 3
deles metidos dentro da colina artificial; e que a torre circular, a E, tivesse
mais 3 ou 4 andares acima dos 4 ou 5 do resto do castelo. Os compartimentos
interiores certamente não ultrapassavam a altura do andar inferior.
Após o seu casamento, construiu uma nova fortaleza no
lugar onde tinha vencido os Judeus, que ele tinha expulso enquanto Antígono se
encontrava no poder.
Este lugar é distante de Jerusalém cerca de 60 estádios;
é naturalmente forte e presta-se admiravelmente a tal destino. É, com efeito,
uma colina muito alta, erguida artificialmente e apresentando, no seu conjunto,
a forma de uma mama. De intervalo a intervalo encontram-se torres redondas.
Sobe-se até lá por uma escada íngreme, contando cerca de 200 degraus de pedra
polida. No interior, encontram-se apartamentos régios luxuosos, tão bem
organizados para a defesa como para a beleza. No sopé da colina, foram
executados trabalhos notáveis, nomeadamente pela conduta da água, de que o
lugar era desprovido, e que foi trazida de longe com grandes custos. As
construções erguidas no sopé da colina, que lhe servia de acrópole, não eram
menores em importância a nenhuma cidade.
(A. J. Liv. XV, IX. 323 - 325)
A GALILEIA
As Duas Galileias
Há 2 Galileias, chamadas, respetivamente, a Alta e a
Baixa. São cercadas pela Fenícia e pela Síria. A ocidente, são delimitadas
pelos confins do território de Ptolemaide e pelo Carmelo, montanha que
pertencia outrora aos Galileus e agora aos habitantes de Tiro. No Carmelo confina-se
Gaba, «Cidade dos Cavaleiros», assim denominada pelo facto de os cavaleiros
licenciados pelo rei Herodes se terem estabelecido aí.
A sul, o seu limite é a Samaria e Sitópolis, até às águas
do Jordão.
A oriente, é limitada pelos territórios de Hipos, de
Gadara e da Gaulanítide. Deste lado, é a fronteira do reino de Agripa.
A norte, a Galileia é limitada por Tiro e pelo território
dos habitantes de Tiro.
O que se chama a «Baixa Galileia» estende-se em
comprimento de Tiberíades a Zabulão, de que é vizinha Ptolemaide no litoral. Em
largura, estende-se desde a aldeia chamada Xalot, situada na Grande Planície,
até Bersabeia, onde começa a Alta Galileia, que se estende em largura até à
aldeia de Baka. Esta aldeia limita o território dos
habitantes de Tiro. Em comprimento, a Alta Galileia vai de Tela, aldeia
próxima do Jordão, até Merot.
Com uma extensão tão limitada, e cercadas de tantas
nações estrangeiras, as duas Galileias resistiram a toda um série de agressões,
porque os Galileus foram sempre valentes no combate, desde a infância, e sempre
numerosos. A cobardia nunca afetou os homens, nem a falta de homens ao país.
O solo é, por todo o lado, tão fértil, tão rico em
pastagens, todo plantado de árvores tão variadas, que o homem que não tivesse o
menor gosto pelo trabalho da terra seria incitado a ele por estas facilidades.
Da mesma forma, o solo tem sido explorado pelos seus habitantes em toda a sua
extensão, sem que alguma parcela ficasse em pousio. Por outro lado, aí as
cidades são próximas e a população das aldeias é, por todo o lado, de uma densidade
elevada, devida à fertilidade do solo, de tal forma que a mais pequena cidade
conta mais de 15 000 habitantes.
(B. J. III, 35 - 43)
Nazaré não é referida nos escritos
de Josefo, nem no Antigo Testamento, nem no Talmud, o que indica
tratar-se de uma povoação muito insignificante naquela época, (Jo 1, 46) com a
sua sinagoga (Mt 13, 53-58; Mc 6, 1-6; Lc 4, 16-30).
O território deste reino começa na cordilheira do
Líbano e nas fontes do Jordão para se estender em largura até ao lago de
Tiberíades, e, em comprimento, da aldeia chamada Arfas até Júlias
É habitado por uma população mesclada de Judeus e de Sírios.
Fizemos, assim, conhecer, o mais brevemente possível, a
configuração do país dos Judeus e das regiões circundantes.
(B. J. III, 57 - 58)
(Cesareia de Filipe)
Depois de ter acompanhado César até ao mar, Herodes, de
volta, elevou-lhe, nas terras de Zenodoro, um templo magnífico em mármore
branco, perto do lugar que se chama Paneias.
Existe, neste lugar da montanha, uma gruta encantadora,
por cima da qual se abre um precipício e um abismo inacessível, cheio de água
parada. Por cima, ergue-se uma alta montanha. É nesta gruta que o Jordão tem a
sua nascente.
(A. J. XV, Cap. X, 3. 363 - 364)
É o templo que figura, com um frontão
sobre quatro colunas, nas moedas do tetrarca Filipe, filho de Herodes.
CRIAÇÃO DE CIDADES PELOS TETRARCAS
HERODES E FILIPE
Depois de ter liquidado os bens de Arquelau e terminado o
recenseamento, que teve lugar no trigésimo sétimo ano após a derrota de António
por César, em Áccio, Quirino despojou da sua dignidade Joazar, o grande pontífice,
contra quem o povo se tinha revoltado, e substituiu-o por Anás, filho de Set.
Herodes (Antipas) e Filipe tinham tomado posse das
suas tetrarquias.
Herodes (Antipas) fortificou Séforis, adorno de
toda a Galileia, e chamou-a Autocratóris (Imperial). Da mesma
forma, após ter cercado de muralhas Betaranfta, outra cidade, chamou-a de
Júlias, segundo o nome da imperatriz.
Por seu lado, Filipe, tendo reorganizado Paneias, na fonte
do Jordão, chamou-a de Cesareia (de Filipe), enquanto a vila de Betsaida, situada
perto do lago de Genesaré, foi elevada por ele à dignidade de cidade, por causa
do número dos seus habitantes, e recebeu o mesmo nome de Júlias, em honra da
filha do imperador.
(A. J.
XVIII, Cap. II, 1. 26 - 28)
O LAGO DE GENESARÉ E O RIO JORDÃO
O lago de Genesaré deve o seu nome ao território que
o torna vizinho. Mede 40 estádios de largura e 140 de comprimento. É, no entanto, um lago de água doce e muito boa para
beber. Tem uma água mais leve que a água espessa das lagoas.
É um lago limpo, cercado de todos os lados por praias e
areia. Além disso, a água que se colhe dele é temperada, mais agradável que a
de um ribeiro ou de uma fonte, mas continua sempre mais fresca do que seria de
esperar com a extensão deste lago.
Esta água não é inferior à neve, quando exposta à
corrente de ar, como têm costume de fazer, no verão, durante a noite, as
pessoas do país.
As variedades de peixes que aí se encontram diferem das
de qualquer outro lado, tanto no gosto como na forma.
O lago é cortado ao meio pelo Jordão, que, aparentemente,
tem a sua nascente no Paneias, mas é conduzido até aí, escondido debaixo
da terra, desde a fonte chamada Fialé. Esta fonte está situada a cento e vinte
estádios de Cesareia,quando de sobe na direção da
Traconítide, a pouca distância do caminho, do lado direito. Segundo a
etimologia, tira o seu nome de Fialé da sua configuração, porque é um lago em
forma de roda. A água enche-o sempre até ao cimo, sem
nunca baixar nem transbordar.
Até aqui, ignorava-se que o Jordão partia de lá, e foi
Filipe, tetrarca da Traconítide, que forneceu a prova: tendo deitado bocados de
palha no lago de Fialé, encontrou-os restituídos no Paneias, onde os antigos
achavam que o rio tinha a nascente.
A beleza natural de Paneias foi realçada pela
munificência régia, tendo-o Agripa ornado às suas custas. O Jordão começa o seu
curso visível a partir desta gruta, depois quebra os pântanos e as águas
estagnadas do lago Semeconítide, percorre ainda 120
estádios, e, após a cidade de Júlias, passa no meio do lago de Genesaré, donde,
após ladear um grande deserto, desemboca no lago Asfaltite.
Ao longo do lago de Genesaré, estende-se uma campina com
o mesmo nome, admirável pela sua beleza natural. Graças à sua fertilidade, este
solo não recusa nenhuma plantação. Os agricultores fazem lá brotar de tudo e a
feliz composição do ar convém mesmo às espécies mais diferentes. Assim, as
nogueiras, essência que tolera melhor os climas rigorosos, prosperam
infinitamente neste país de palmeiras, que vivem do grande calor, a figueiras e
a oliveiras, que se conciliam mais com ele, para as quais se prescreve um clima
mais doce. Dir-se-ia que a Natureza colocou o seu ponto de honra neste alternar
de forças de juntar num único lugar as essências incompatíveis e de provocar as
estações numa bela rivalidade, onda cada uma faz valer os seus direitos sobre
este território. De facto, a região não só produz, contra toda a esperança, os
frutos mais diversos, mas fá-los durar. Assim, estes reis dos frutos, as uvas e
os figos, ela fornece-os durante 10 meses sem interrupção; os outros frutos,
durante todo o ano, amadurecem lá sobre a árvore. É que, além do seu ar
temperado, é regada por uma fonte muito fertilizante. As
pessoas do sítio dão-lhe o nome de Cafarnaum. Alguns
pensaram que era uma ramificação do Nilo, já que produz uma espécie de peixes
análoga ao coracim do lago de Alexandria. Este território estende-se na margem do lago do mesmo nome, num
comprimento de 30 estádios e numa largura de 20.
Tal é a natureza destas paragens.
(B. J. III, 506 - 521)
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