O termo "hermenêutica" deriva do grego hermeneuein, "interpretar". A Hermenêutica Bíblica cuida da reta compreensão e interpretação das Escrituras. Consiste num conjunto de regras que permitem determinar o sentido literal da Palavra de Deus.
É o estudo cuidadoso e sistemático da Escritura para descobrir o significado original que foi pretendido. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia.
A Escritura é explicada pela Escritura e pelo Santo Espírito. A Bíblia interpreta a própria Bíblia.
1) A NECESSIDADE DO ESTUDO
Atos 8:26 Mas um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai em direção do sul pelo caminho que desce de Jerusalém a Gaza, o qual está deserto. 27 E levantou-se e foi; e eis que um etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros e tinha ido a Jerusalém para adorar, 28 regressava e, sentado no seu carro, lia o profeta Isaías. 29 Disse o Espírito a Filipe: Chega-te e ajunta-te a esse carro. 30 E correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes, porventura, o que estás lendo? 31 Ele respondeu: Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar? e rogou a Filipe que subisse e com ele se sentasse. 32 Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como a ovelha ao matadouro, e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, assim ele não abre a sua boca. 33 Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; quem contará a sua geração? porque a sua vida é tirada da terra. 34 Respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? de si mesmo, ou de algum outro? 35 Então Filipe tomou a palavra e, começando por esta escritura, anunciou-lhe a Jesus.
1-. O próprio Pedro admitiu que há textos difíceis de entender: "os quais os indoutos e inconstantes torcem para sua própria perdição" (2 Pedro 3:15 e 16).
2-. A arma principal do soldado cristão é a Escritura, e se desconhece o seu valor ou ignora o seu legítimo uso, que soldado será? (2 Timóteo 2:15).
3-. As circunstâncias variadas que concorreram na produção do maravilhoso livro exigem do expositor que o seu estudo seja meticuloso, cuidadoso e sempre científico, conforme os princípios hermenêuticos.
A Necessidade da hermenêutica
1.O conflito hermenêutico : O mundo de lá e o mundo de cá, isto gera um desafio que o estudante da bíblia deve entender como tal, desde que esteja disposto a desgastar-se na descoberta da mensagem de Deus no texto.
2.As diversas dificuldades que o texto bíblico apresenta: língua, tempo, história, sociedade, estilos de vidas, estilos culturais, gêneros literários,etc,
3.Diversidade na literatura bíblica: poesias, estórias, parábolas, apocalíptica, epístolas,etc.
4.A própria história da Igreja. 2.000 anos de interpretação bíblica
5.A perspicuidade e complexidade das Escrituras - João 3:16 vs. 1aPe:3:18-22
6.É uma motivação e prática bíblica: Ne:8:8, At:8:26-31a; 2a.Pe:3:15. as parábolas de Jesus.
O valor da Hermenêutica
Aproxima-nos do texto e do seu sentido e significados corretos
Fortalece a nossa convicção na pessoa de Deus- Deus revelou a eternidade
Enaltece a Soberania de Deus que preservou a escrita até hoje
Coloca-nos na linha da história da igreja
Traz equilíbrio entre o conteúdo (revelação) e comportamento (ética exigência)
Confirmação da credibilidade da revelação.
Auxilia-nos para determinar o permanente e o temporário
Base “cientifica” a vida devocional.
Válida a encarnação do Filho de Deus. O texto inserido na história e cultura de um povo. “teologia da terra”
Evita o desvio (sensus plenior)
Descobre-se a unidade da revelação
CARACTERÍSTICAS DO INTERPRETE
Objetividade: Não há duvidas que o estudante está influenciado por diversos fatores: a sua filosofia, questionamentos históricos, psicológicos, e religiosos que inevitavelmente conduz a sua interpretação. A objetividade esta no reconhecimento destas forças.
Espírito científico: Existem dois modos dispares: pietista e racionalista “O exegeta deve estar mentalizado e capacitado para aplicar a um estudo da Bíblia os mesmos critérios que regem a interpretação de qualquer composição literária O fato de que tanto a Bíblia como na sua interpretação existam elementos especiais não exime o interprete de colocar a devida atenção a crítica textual, ao análise lingüístico, a consideração do fundo histórico e tudo quanto possa contribuir para esclarecer p significado do texto (arqueologia, filosofia, obras literárias contemporâneas, etc.”
É preciso capacidade espiritual: Estar aberto a ação da Palavra. Atitude de compromisso. Espírito de mediador: servir de ponte entre o autor do texto e o leitor.
ASPECTOS GERAIS DA HERMENÊUTICA BÍBLICA
1 - É necessário tomar as palavras no sentido que indica o contexto, isto é, os versos que precedem e seguem o texto que se estuda. Consulte o texto imediato e remoto.
2 – Vocabulário do escritor - Enquanto for possível, é necessário tomar as palavras no seu sentido usual e ordinário.
É absolutamente necessário tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da frase.
Comente: Estamos debaixo da lei. (I João 1:4).
3 – O intuito do escritor - É preciso tomar em consideração o desígnio ou objetivo do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras.
Esta regra tem importância especial quando se trata de determinar se as palavras devem ser tomadas em sentido literal ou figuradas. Para não incorrer em erros, convém, também, deixar-se guiar pelo pensamento do escritor, e tomar as palavras no sentido que o conjunto do versículo indica. Exemplos:
· Apóstolo João no fim do seu evangelho (20:30-31)
· Lucas no começo de seu evangelho (1:1-4)
· Dedução ( Rom. 1:1-7; Gal 1:6-7; I Tim 1:3-4 )
· Chaves ( Num 1:1 - No deserto )
4 – Paralelismo e correlação - É indispensável consultar as passagens paralelas explicando as coisas espirituais pelas espirituais (I Cor 2:13).
· Verbais passagens que ocorrem as mesmas palavras.
· Reais – se trata do mesmo assunto ou se expõe a mesma doutrina. (evangelhos)
BREVE HISTÓRICO
O método crítico histórico de investigação bíblica, que surgiu no século XIX, salienta a necessidade de compreendermos o que os próprios autores bíblicos entendiam com aquilo que diziam, considerando-se a posição deles dentro da história.
Esse método de investigação salienta que eles viveram em uma época em que a ciência era deficiente e muito limitada; que eles viviam herdaNdo idéias primitivas sobre a natureza; seus pontos de vista sobre Deus eram bastante antropomórficos; que eles tinham pouca noção sobre crítica textual, e que, virtualmente, desconheciam totalmente a arqueologia. Assim, cresceu a ênfase acerca do descobrimento do que esses autores sagrados tinham querido ensinar, e uma preocupação menor com o conteúdo das VERDADES que eles ensinavam. Aos teólogos dogmáticos foi entregue a tarefa de investigar esse conteúdo.
A NOVA HERMENÊUTICA
A renovação do interesse pela hermenêutica bíblica tem sido estimulada por teólogos existencialistas, como Rudolf Bultmann e seus seguidores. Nomes associados a isso são Gerhard Ebelin, Ernest Fuchs e Martin Heidegger. Esses homens seguiam as idéias de Bultmann, embora as tivesse levado a extremos que ele não teria aprovado.
Heidegger enfatizava a importância da linguagem como algo anterior à humanidade, como um poder que teria moldado a compreensão dos homens. A própria existência humana seria definida linguisticamente; e, através da linguagem, chegaríamos a entender o ser humano. A existência humana torna-se autêntica quando tem permissão de desempenhar o seu papel; e então chegamos a uma compreensão apropriada da mensagem que ela tenta comunicar.
Isso posto, a linguagem seria Hermes, o mensageiro dos deuses. Por meio da ciência da hermenêutica, procuramos recapturar os eventos proferidos pelos profetas, extraindo dali o sentido que convém. Isso envolve mais do que entender o que um profeta qualquer tem a dizer, no contexto de sua própria época. Antes, devemos procurar penetrar no seu sentido, naquilo que significa hoje em dia, pois a verdade reveste-se de uma universalidade que é comunicada por meio da linguagem.
Jesus proferiu palavras imortais, aplicáveis em qualquer época. Não precisamos nos preocupar com toda a forma de questão cultural e histórica, a fim de entender a mensagem universal da alma, mas precisamos entrar na linguagem do coração, para que tenhamos uma perfeita compreensão das coisas. E também há uma linguagem da fé, que devemos esforçar-nos por entender. Verdadeiramente, parece que esses filósofos-teólogos acreditam que a linguagem reveste-se de alma qualidade mística, dotada de tesouros ocultos. A demitização pode ser uma tarefa infrutífera. A verdadeira hermenêutica tem a tarefa de compreender de que modo o Evangelho de Cristo aplica-se ao homem moderno. Há nisso uma fé de que o evangelho, verdadeiramente, dirige aos homens uma mensagem universal, mensagem essa que pode ser determinada.
A nova hermenêutica não ignora a erudição histórica e crítica os eruditos do século XIX. Porém, apronta para uma tarefa idêntica à do pregador. Há uma mensagem a ser comunicada que é mais importante do que o manuseio crítico de um texto qualquer. A erudição, quando muito, leva-nos somente ao limiar da interpretação. A partir desse ponto, o Espírito, que fala através da linguagem, deve receber a permissão de levar-nos a profundezas maiores. A mensagem pode ficar aprisionada em um texto; e precisa ser liberada. A tarefa da hermenêutica e da pregação, portanto, é a libertação. Uma vez liberada, a mensagem pode nos transformar. Dentro dessa interpretação, encontramos o casamento entre a interpretação e o dogma; e o dogma torna-se uma verdade viva que nos transforma, não se limitando a ser apenas uma criança credal. A erudição histórico-crítica, pois, torna-se uma serva da hermenêutica, e não a própria substância da mesma.
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