Pretório de Pilatos
Frente a ela,
a torre Hípicos, perto da qual 2 outras foram construídas pelo rei
Herodes na antiga muralha. Pelas suas dimensões, pela sua beleza e pela sua
solidez, ultrapassavam as torres do mundo inteiro. É que, com efeito, além do
seu temperamento levado para a magnificência e para as suas ambições pela
cidade, este rei procurava satisfazer, pela excelência das suas construções,
afetos pessoais. Foi assim que ele consagrou, dando os seus nomes a estas
torres, a memória das 3 pessoas que lhe foram mais caras: um irmão, um amigo e
uma esposa. Se ele matou esta, (...) foi por amor. Perdeu os 2 últimos na
guerra, onde tinham combatido valentemente.
A
torre Hípicos, com o nome do seu amigo, era quadrada. Tinha de
comprimento e de largura, para cada dimensão, 25 côvados, e 30 de altura, sem
nenhuma cavidade no interior. Por cima desta massa de pedras, não formando mais
do que um só bloco, havia uma cisterna de 20 côvados de profundidade para
recolher as águas da chuva, e, por cima, uma construção de 2 andares, com a
altura de 25 côvados, dividida em compartimentos, ornados de forma diversa, e
sobrepujada em torno com torrinhas (=merlões)de 2 côvados e
parapeitos (=ameias) de 3 côvados, de tal forma que a altura total se
cifrava em 80 côvados.
A segunda torre, ele
denominou-a com o nome do seu irmão, Fasael. Era tão longa como
larga, com 40 côvados em cada dimensão, e também 40
côvados de altura na parte maciça. Por cima, corria um pórtico de 10 côvados de
altura, protegido por parapeitos e por saliências (?). A meio comprimento
deste pórtico, elevava-se uma outra torre, compreendendo sumptuosos
apartamentos e até banhos, de tal maneira que nada faltava a esta torre que lhe
pudesse dar o aspeto de um palácio. O cume era ornado de
parapeitos (=ameias) e de torrinhas (=merlões). A altura total
era de cerca de 90 côvados. A sua silhueta assemelhava-se à da torre da ilha de
Faros, cujos fogos iluminam os navegadores que singram
em direção a Alexandria. (...)
A terceira
torre, Mariame, porque a rainha usava este nome, era uma construção maciça
que atingia vinte côvados (de altura) e ultrapassava 20 côvados tanto
em largura comoe em comprimento. Todavia, a parte habitável, em cima, era
ordenada de forma muito mais sumptuosa e variada que nas outras; pensando o rei
que uma habitação tendo o nome de uma mulher devia ser mais ornada que as que
as que tinham nomes de homens, da mesma forma que estas últimas deviam ser mais
potentes que a da mulher. A altura total desta torre era de 55 côvados.
Com semelhantes dimensões,
estas 3 torres pareciam ainda maiores, por causa da sua localização. Com
efeito, a antiga muralha, sobre a qual elas se encontravam, tinha, também ela,
sido construída sobre uma alta colina. Formava, como que a crista, muito mais
elevada, desta colina, até uma altura de 30 côvados. E as torres elevando-se sobre
esta crista, faziam ainda maior a elevação.
A dimensão das pedras era,
também ela, admirável, porque não era de pedras banais ou de pedras
transportáveis em braços de homens que estas torres tinham sido constituídas:
tinha-se talhado em mármore branco. Cada um dos blocos media 20 côvados de
comprimento por 10 de largura e 5 de espessura, tão ajustados entre eles que
nenhuma das torres parecia ser senão um único rochedo surgido naturalmente e
polido em seguida pela mão das pessoas da profissão para lhe dar a sua forma e
as suas arestas. É que em nenhuma parte se notavam as juntas da alvenaria.
A estas torres, situadas a
norte, era contíguo, no interior, o palácio do rei (hê toû basiléôs
aulê), ultrapassando toda a descrição. Não lhe faltava nada, com efeito,
da mais extrema magnificência e da mais perfeita organização. Era completamente
cercado de muros de 30 côvados de altura, e, a intervalos iguais, marcado com
torres ornamentais, vastas salas de banquetes e perto de uma centena de quartos
de hóspedes. Continham uma indescritível variedade de pedras, porque aí se
encontrava junto o que, em todo o lado, havia de mais raro. Havia tetos
admiráveis pelo comprimento das vigas e pelo esplendor dos apainelados; e uma
multidão de alojamentos, com formas infinitamente variadas e todos guarnecidos
de mobília completa, onde dominavam, para cada um, os artigos de prata e de
ouro.
(Havia) muitos
peristilos (perístoa) em circuito (en kúklôi) uns após
outros, com colunas diferentes para cada um. Todas as partes a céu aberto
destas construções eram espaços verdes, com bosquezinhos de árvores de
essências variadas, atravessados por longas alas, elas próprias cercadas de
riachos profundos. Por todo o lado, (havia) reservatórios ornados em
torno com figuras de bronze pelas quais brotava a água, e, em torno dos planos
de água, numerosos pombais para pombos domésticos.
Mas é impossível dar deste
palácio a descrição que ele merece. Ainda por cima, lembrá-lo traz um
verdadeiro tormento, porque isso evoca as devastações causadas pelo incêndio
que os salteadores acenderam. Não foram os Romanos que queimaram estas
maravilhas, mas é a obra dos facciosos da cidade no início da insurreição.
(...) Foi pela torre Antónia que o fogo começou; ganhou, em seguida, o palácio
e devorou os tetos das 3 torres.
(B. J. V, 136 - 183)
Esta
torre estava situada no ângulo NE do palácio. Chegou até nós parte da base
dela, cujas medidas se aproximam das que Josefo indica. As suas paredes são
reconhecíveis pelas típicas bossagens das pedras, como acontece nas construções
herodianas. A base é ligeiramente retangular.
Junto desta torre haveria
uma porta virada para norte, à saída da qual Jesus foi ajudado pelo cireneu (Mt
27, 31-32; Mc 15, 20-21; Lc 23, 25-32).
Estes
55 CV de altura distribuem-se da seguinte forma: 20 CV para a base, que era 10
CV mais baixa que a muralha do palácio; 1 piso de 10 CV de altura até ao cimo
da muralha; 2 pisos de 10 CV de altura cada um, desde a muralha até às ameias
da torre; e 5 CV (3 + 2) para as ameias com os merlões.
Como
o Heródion, também este palácio de Herodes, em Jerusalém, seria um castelo de
muralhas duplas paralelas, ligadas por muitos compartimentos e providas de
torres salientes para o exterior. Ocupava uma extensão de cerca de 300 m por 60
m, formando um retângulo no sentido N - S. A parte NO, onde se encontravam as 3
torres que Josefo descreve, não era angular, mas arredondada. No centro desta
cinta de muralhas com compartimentos, situar-se-iam vários peristilos
ajardinados, ligados uns aos outros e aos compartimentos das muralhas. Nesse
espaço interior situar-se-iam, talvez um de cada lado da entrada virada a
oriente, os dois triclínios, Agripeion e Cesareion, de que
Josefo fala, que seriam, certamente, duas grandes salas com tetos suportados
por colunas, como a do palácio de inverno em Jericó ou como a do Heródion.
Tendo em conta a altura de 30 CV da muralha do castelo, os compartimentos em
torno, entre as muralhas duplas, estariam divididos em 3 pisos (de 10 CV de
altura cada um) ou 2 pisos (o piso inferior podia ser mais alto). Os tetos eram
planos, de madeira de cedro, e trabalhados. As paredes estariam revestidas com
mármores de diversas cores, ou pintadas em diversas formas geométricas, como
noutras construções herodianas. Os peristilos teriam altura equivalente à do
piso inferior (de 10 a 15 CV). Os dois triclínios seriam mais altos que os
peristilos, sobre os quais teriam as janelas dos lados. A porta oriental daria
para o centro da ágora da «Cidade Alta», a praça empedrada conhecida
como Gabbathá ou Lithóstrotos. Esta porta seria em arco, com
torres de um lado e do outro, ao longo da muralha. No interior do palácio, essa
mesma porta daria acesso imediato a um átrio, no qual devem ser localizados os
diálogos entre Jesus e Pilatos, a flagelação (numa das colunas) e a coroação de
espinhos.
(Confrontar com o Heródion,
com o palácio de inverno de Jericó, com Massada (Masada), com o palácio de
Diocleciano em Spalato, etc.).
Enquanto o Heródion e a
Antónia tinham uma torre mais alta que as outras, este palácio de Herodes tinha
3 torres mais altas que as outras.
(Herodes) instituiu, em honra de César, jogos que deviam ser celebrados de 4 em 4 anos.
Fez construir, em Jerusalém,
um teatro e na planície um vasto anfiteatro, edifícios notáveis pela sua
magnificência, mas contrários aos hábitos dos Judeus. (...) Em torno do teatro,
foram dispostas inscrições em honra de César, trofeus lembrando os povos que
vencera e conquistara, tudo executado em ouro puro e em prata.
(A. J. XV, Cap. VIII, 1)
Naquele momento, o
santuário (hierón) estava terminado. O povo
via, pois, que os operários, em número de mais de 18 000, ficavam no desemprego
e tinham necessidade de salários, porque até então ganhavam a vida trabalhando
no santuário. Não queria poupar o dinheiro, com medo dos Romanos, mas,
preocupando-se com os operários, queria dispensar o tesouro em favor deles. Com
efeito, se um operário tivesse trabalhado não mais que uma hora por dia, era
imediatamente pago por ela. O povo exorta e persuade o
rei para restaurar o pórtico oriental. Era este um pórtico exterior do templo,
dando sobre um vale profundo, com muros de 400 côvados de comprimento, de
blocos quadrangulares de mármore branco, sendo o comprimento de cada um de 20
côvados e a altura de 6. Era obra do rei Salomão, que foi o primeiro que
construiu todo o santuário (hierón).
Mas o rei, a quem o
imperador Cláudio tinha confiado o cuidado de se ocupar do templo, refletiu que
trabalho mais fácil era demolir, ao passo que construir era difícil, sobretudo
tratando-se deste pórtico, porque isso exigia muito tempo e dinheiro. Afastou,
pois, este pedido, mas sem se opor a que a cidade fosse pavimentada de mármore
branco.
(A. J. XX, Cap. IX, 7. 219 -
222)
Uma
parte do muro oriental parece ser anterior a Herodes e até pode remontar aos
tempos de Salomão. Essa parte do muro é que teria 400 CV ou talvez 500 CV de
comprimento.
Cesareia
Tendo notado, na costa, uma
cidade então em plena decadência – chamava-se Torre de Estratão – mas que, em
razão da sua localização favorável, era bem feita para beneficiar das suas
larguezas, ele reconstruiu-a inteiramente de pedra branca, ornou-a de palácios
magníficos e foi lá, mais do que qualquer outro lado, que desdobrou a grandeza
do seu génio.
De Dora a Jope, das quais
esta cidade é equidistante, a costa, com efeito, encontrava-se desprovida de
porto, de tal forma que qualquer viajante que seguisse a costa desde a Fenícia
em direção ao Egito lançava a âncora ao largo por causa da ameaça do vento do
sudoeste; porque mesmo quando sopra moderadamente, a ondulação eleva-se a tal
altura contra os rochedos que o seu refluxo torna o mar perigoso até uma grande
distância.
Mas o rei, à força de
larguezas e de magnificência, conseguiu vencer a natureza: construiu um porto
maior que o Pireu, e, nos seus reforços, ainda mais ancoradouros profundos.
Chocando, por todo o lado,
contra a hostilidade do terreno, desafiou a dificuldade, fazendo que a solidez
da construção fosse à prova dos ataques do mar, e que, pela beleza, ela fosse
adornada como se não tivesse havido nenhum obstáculo.
Como se tinha fixado para as
dimensões deste porto o termo de comparação que acabamos de indicar, fez
imergir em plenas águas, até uma profundidade de 20 braças, blocos de pedra, a
maior parte das quais media 50 pés de comprimento, 9 de altura e 10 de largura
e por vezes mais.
Uma vez preenchido o fundo,
o dique por cima do nível do mar apresentava uma largura de 200 pés, 100 dos
quais de avanço contra o assalto das ondas, donde o seu nome de «quebra-mar», e
o resto subjacente ao parapeito de pedra que corria em torno do porto. Este
dique era marcado com torres muito altas, das quais a mais avançada e mais
magnífica foi chamada Drúsio, segundo nome do enteado de César. Havia lá uma multidão de câmaras abobadadas onde se
pudessem abrigar os que acabavam de lançar a âncora. Todo o terrapleno circular
que corria diante destas câmaras formava um largo passeio para quem
desembarcava. A entrada do porto era a norte, porque nesta região é o vento do
norte o mais calmo. Na entrada estreita, de cada lado, 3 colossos adossados a
colunas: os da esquerda quando se entra são suportados por uma torre maciça, e
os da direita por 2 blocos de pedra levantados e ligados entre eles, cuja
altura ultrapassa a da torre que se eleva no outro lado.
As residências vizinhas do
porto são, também elas, de pedra branca. As artérias da cidade convergem para o
porto e são traçadas a intervalos iguais uns aos outros. Frente à entrada
estreita, numa plataforma, um templo de César, notável pela sua beleza e pelas
suas dimensões, tendo no interior um estátua de César maior que o natural, que
não é inferior à de Zeus de Olímpia, em que se inspira, e uma estátua de Roma, semelhante à de Hera de Argos.
Herodes dedicou a cidade à
província romana, o porto aos que navegam nestas paragens, e a César a glória
desta fundação, que, por este facto, ele chamou de Cesareia.
Quanto ao resto dos
edifícios, anfiteatro, teatro, praças públicas, fê-los
construir dignos deste nome.
Instituiu, também, concursos
quinquenais, aos quais ele deu um nome tirado, também, do nome de César, e que
ele inaugurou, fornecendo pessoalmente prémios magníficos, na 192.ª olimpíada, concursos nos quais não somente os vencedores, mas também os
que vinham em segundo e mesmo os que vinham em terceiro lugar recebiam a sua
parte da munificência real.
(B. J. I, 408 - 415)
Este
enteado de Augusto é Nero Claudius Drusus (38 - 9 a. C.), pai de
Germânico e filho de Lívia, casada em segundas núpcias com Augusto.
Quer
dizer que este templo era dedicado conjuntamente a Augusto e a Roma, segundo as
exigências do próprio Augusto: Em nenhuma província aceitou templos, a não
ser que tivessem em comum com o seu o nome de Roma (Suetónio, Aug.
52).
Cesareia
tornou-se uma cidade tão importante que foi escolhida para residência dos
representantes do imperador.Tácito (Hist. 2, 78, 10) faz dela a capital da
Judeia, com o mesmo título com que Antioquia da Síria. A população era
maioritariamente pagã, mas compreendia, também, Judeus, que foram massacrados
durante os tumultos de 66 (B. J. 2, 457).
Um
teatro e um anfiteatro são edifícios característicos da civilização
greco-romana. Foi nesse teatro de Cesareia, precisamente, que os Atos dos
Apóstolos (12, 21 - 23) e F. Josefo (A. J. 19, 343 - 350) situam a
cena em que Herodes Agripa I discursou à multidão e aceitou as lisonjas
sacrílegas.
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