JERUSALÉM
O Palácio de Herodes, em Jerusalém
(Pretório de Pilatos)
O Palácio de Herodes, em Jerusalém
(Pretório de Pilatos)
Naturalmente, existe lá o
seu próprio palácio régio (basíleion), que ele fez
construir na cidade alta, e que compreendia 2 imensos
edifícios (oíkoi) muito belos, com os quais um templo,
realmente, não suportaria a comparação, a que ele deu o nome dos seus amigos, respectivamente Cesareion e Agripeion.
Estes dois edifícios seriam
as duas maiores salas do palácio, certamente com o teto suportado por colunas
em três ou quatro lados, no interior, como se pode imaginar pelos vestígios do
palácio de inverno de Jericó e do Heródion. Talvez se deva situar numa destas salas
o encontro dos Magos do Oriente com Herodes. (Mt 2)
Depois, como a sua
prosperidade tinha retomado um novo impulso, (Herodes) construiu para
si um palácio na cidade alta. Construiu imensas salas, que receberam a mais
rica decoração, ouro, mármores, revestimentos preciosos. Cada uma delas
continha leitos de mesa, podendo receber um grande número de convivas, e tinha
as suas dimensões e designações particulares; uma chamava-se, com efeito, de
César, e a outra de Agripa.
(A. J. XV, Cap. IX, 3)
Floro, por enquanto, passou
a noite no palácio (de Herodes).
No dia seguinte, fez erguer
diante do palácio um estrado (bêma), onde se sentou. Os sumos sacerdotes,
as personalidades influentes e os notáveis da cidade aproximaram-se e
mantiveram-se diante do estrado. (...)
Floro grita aos seus
soldados que pilhem o mercado (agorá) dito «de cima» (ánô) e que matem os que encontrem. Os soldados, (...) não só
pilharam o lugar aonde tinham sido enviados, mas precipitaram-se em todas as
casas e degolaram os ocupantes.
Era a debandada no
desembocar das ruelas...
(B. J. II, 301, 305 - 306)
Cf.:
Jo 19, 13-14: Pilatos, pois, ouvindo estas palavras, trouxe Jesus para
fora (do Pretório) e sentou [-se] no tribunal(ekathisen epi bêmatos),
no lugar chamado Lithóstrotos (=pavimento, lajedo), em hebraico, porém,
Gabbathá (=altura?,eminência?, corcunda?). Era, porém, a preparação da
Páscoa, cerca da hora sexta. E diz aos Judeus: «Eis o vosso rei!»
Imediatamente
à frente do palácio de Herodes (um castelo comprido, situado na parte mais alta
da cidade), ficaria uma ágora (um fórum), praça de mercado com colunatas
em torno (menos, neste caso, do lado do palácio). Os pórticos dos mercados
consistiam em lojas sucessivas com colunatas ligadas à frente, em torno de uma
praça. Era, pois, à frente do palácio, certamente tendo uma porta entre torres
voltada para a praça, que se realizavam os julgamentos, com a multidão reunida
nessa praça. No Antigo Testamento diz-se que os julgamentos e
os negócios eram à frente das portas fortificadas:Dt 21, 18-21; 22,
13-18; Rt 4, 1-11; Sl 127 (126), 5.
Desde a sua chegada, Céstio
incendeia Bezeta, também chamada «Cidade Nova» (Kainópolis), e o
lugar chamado «Mercado das Vigas» (Dokôn Agorá). Dirige-se, em
seguida, em direção à cidade alta (ánô pólis), e estabelece o seu
campo militar frente ao palácio régio.
(B. J. II, 530)
Se à
frente do palácio régio não existisse um espaço amplo, «a ágora de cima», seria
pouco provável estabelecer lá um campo militar!
(Palácio de Herodes Agripa)
Agripa (...) convocou (...)
o povo ao Xisto (xustón), colocou perto dele, bem à
vista, a sua irmã Berenice sobre o terraço da residência dos Asmoneus. Esta residência
dominava o Xisto, frente à cidade alta, e uma ponte ligava
o santuário ao Xisto. Agripa falou...
(B. J. II, 344)
Xustón –
lit. aplanado; alisado (para a caminhada ou para a corrida). Aqui,
trata-se de uma praça, e, segundo parece por este texto, ligada ao palácio dos
Asmoneus e situada num nível inferior. Situava-se a oeste do templo, no vale do
Tiropeion, ou justamente acima. Seria este o ginásio mandado construir pelo
sumo sacerdote Jasão, no tempo dos Macabeus? (1Mc 1, 14-15; 2Mc 4, 12-14ss).
O palácio dos Asmoneus devia
estar encostado ao Xisto, mas num nível mais elevado.
A cidade era
fortificada por 3 muralhas do lado em que não era cercada de ravinas
intransponíveis; porque aí, não havia senão uma única muralha. A própria cidade
estava construída frente a frente, sobre 2 colinas separadas por uma ravina
média, perto da qual as casas cessam de se empilhar umas sobre as outras.
Destas colinas, aquela em
que se elevava a cidade alta era muito mais elevada e alongava-se segundo um
eixo mais retilíneo. Também, em razão desta posição fortificada, tinha recebido
do rei David o nome de Fortaleza (Este rei era o pai de Salomão, que foi o
primeiro construtor do templo); chamamo-la agora «a Ágora de Cima».
A outra colina, chamada
Acra, carrega a cidade baixa, como sobre uma corcunda dupla.
Frente a esta última colina,
uma terceira altura, naturalmente menos elevada que a Acra e que, na origem,
era separada dela por uma outra larga ravina. Mais tarde, na época em que
reinavam os Asmoneus, preencheu-se a ravina com vista de reunir a cidade ao
templo: por trabalhos de nivelamento, abaixou-se a altura da Acra, para que,
deste lado, se pudesse ver adiante erguer-se o templo.
Quanto à ravina dita «dos
Queijeiros», que dissemos que separava a colina da cidade alta da colina
inferior, desce até Siloé; porque era assim que nós chamávamos esta abundante
fonte de água doce.
Em direção ao exterior, as 2
colinas da cidade são cercadas de profundas ravinas e, por causa dos
precipícios de um lado e do outro, o acesso não era possível em nenhum ponto.
A
cidadela de David é atualmente localizada a sul da esplanada do templo, na colina
Ofel (2Sm 5, 7).
A
piscina de Siloé não é, na realidade, uma nascente de água: o rei Ezequias (em
700 a. C.) mandou escavar até lá um túnel de 520 m de comprimento, em forma
de S, na rocha, desde a fonte de Gion, que, por ficar fora das muralhas,
foi escondida (2Rs 20, 20; Jo 9, 6-7).
Das 3 muralhas, a mais
antiga, por causa das ravinas e da colina em inclinação onde ela tinha sido
construída, era difícil de tomar. Além da vantagem da sua localização, ela
tinha sido solidamente construída por David e por Salomão e pelos reis que
depois deles rivalizaram nesta construção. No entanto,
do norte, da Torre dita Hípicos, estendia-se até ao Xisto, tocando, em seguida, a Sala do Conselho (Boulê), e terminava no pórtico ocidental do templo. Na outra
direção, a oeste, partindo do mesmo ponto (da torre Hípicos),
atingia, através do lugar denominado Bethso, a Porta dos Essénios. Daí, a sul, curvava-se até para lá da fonte de Siloé, após
a qual, a este, obliquava na direção da Piscina de Salomão, continuava
até um lugar chamadoOphlas, onde se juntava ao pórtico oriental do templo.
A segunda
muralha começava na porta que se chamava Porta de Gennath, que
fazia parte da primeira muralha. Não cercava senão o bairro norte e subia até
à (torre) Antónia.
A terceira
muralha começava na torre Hípicos. Daí, ela atingia, em direção ao
norte, a torre Pséphinos. Em seguida, descia em frente do monumento de
Helena, rainha de Adiabene, filha do rei Izatés. Mergulhava entre as grutas
reais, curvando-se até à torre de ângulo junto do túmulo denominado «do Pisão».
Por fim, ligando à antiga trincheira, chegava ao vale chamado do Cédron. Esta
última muralha foi construída por Agripa para cercar a excrescência da cidade
que se encontrava então a descoberto, porque a cidade, devido ao excesso da sua
população, tinha pouco a pouco transbordado das suas muralhas. Os habitantes,
reunindo o bairro situado a norte do templo à colina, avançaram até bastante
longe e cobriram com as suas habitações uma quarta colina, chamada Bezetha, situada
frente à Antónia, mas separada dela por uma concavidade profunda. Este fosso
foi cavado de propósito, para evitar que os alicerces da Antónia, se
continuassem ligados à colina, se tornassem acessíveis e não fossem mais
erguidos. Por este facto, a profundidade do fosso deu a estas torres uma
grandíssima altura. O bairro recentemente construído foi chamado no país
Bezetha, que traduzido em grego se
diria Kainópolis.
Como os habitantes deste
bairro necessitavam de defesa, o pai do atual rei e do mesmo nome que ele,
Agripa, começou a muralha de que acabámos de falar; mas
temendo que Cláudio César, pela importância do empreendimento, desconfiasse de
algum espírito de revolução e de sedição, parou o trabalho no momento em que se
acabava somente de lançar os alicerces. Efetivamente, a cidade teria sido
invencível se esta muralha tivesse progredido com se tinha começado, porque ela
era construída de blocos de 20 côvados de comprimento por 10 de largura, e não
se teria podido facilmente miná-la com o ferro ou derrubá-la com máquinas de
guerra. O próprio muro tinha uma espessura de 10 côvados; a sua altura teria
sido verosimilmente mais elevada se a ambição do que a tinha começado não
tivesse sido travada. Mais tarde, porém, ainda que fosse à pressa, foi erguida pelos
Judeus até 20 côvados, com merlões de 2 côvados e
parapeitos (=ameias) de 3 côvados, de tal maneira que a altura total
atingia 25 côvados.
Esta
primeira muralha é a única cujo traçado oferece poucas dúvidas. A parte norte
desta muralha, que ia desde o palácio de Herodes até ao muro ocidental do
templo, deve ter sido parcialmente substituída por uma ponte larga (de 15 m de
largura) e comprida, da qual fazia parte o chamado arco de Wilson. É natural
que esta substituição fosse consequência da construção da segunda muralha, a
qual tornava desnecessária esta parte da primeira.
O traçado da segunda
muralha é muito discutido na parte ocidental, onde se ligava à primeira
muralha, porque neste espaço há muitos restos de muralhas. O próprio local da
Porta de Gennath é desconhecido.
A terceira muralha,
cujo traçado é muito discutido, incluía o local do Calvário, que antes
ficava «do lado de fora da porta»(Hb 13, 11-12).
A Mishnáh situa a
sala do Sinédrio a sul do átrio dos sacerdotes, sem lhe atribuir medidas que
lhe permitissem tal função(Mid 5, 4). Dá a essa sala o nome de «Sala
da Pedra Talhada» (Lishkat-ha-Gazith), como se não fosse normal as
construções herodianas serem de pedra talhada! Diz, também, o Talmud, que
40 anos antes da destruição do templo (por volta de 30 d. C.), o Sinédrio foi
expulso da Sala da Pedra Talhada para um local de comércio. (?!) A
respeito da disposição interna, diz:«Os assentos estavam dispostos em
hemiciclo, podendo cada membro ver todos os outros. O presidente (o sumo
sacerdote)sentava-se no centro e os anciãos à sua direita e à sua
esquerda» (Tosifta Sanh. 8, 1).«Dois secretários dos juízes mantinham-se
frente a eles, um à direita e outro à esquerda. Recolhiam os votos dos que se pronunciavam
por uma absolvição e dos que condenavam. O rabi Judá diz que eram três: além
dos dois referidos, um terceiro recolhia a totalidade dos votos. Três filas de
discípulos dos sábios estavam à frente deles, tendo cada um o seu lugar
pessoal. Se fosse preciso designar (um deles para completar o número dos
juizes presentes), o Sinédrio escolhia um dos da primeira fila. O seu
próprio lugar tornava-se o de um dos da segunda fila, substituído, por seu
lado, por um dos da terceira. Por fim, os juízes designavam um dos assistentes
para vir sentar-se na terceira fila, sem substituir o que tinha passado para a
segunda, mas guardando o seu estatuto pessoal.» (Sanh. 4, 3 s).
É mais credível, no entanto,
que os juízes estivessem dispostos em U do que em semicírculo, o que
não exigia uma largura tão grande. Mesmo assim, não podemos acreditar que o
Sinédrio alguma vez tenha funcionado numa sala do períbolo interior do templo.
A localização do Sinédrio no templo deve ser extrapolação de Dt 17, 8-13.
A boulê, segundo
os dados de Josefo, ficaria perto do atual recinto do Muro das Lamentações,
fora do templo, por conseguinte. Quanto à forma e ao aspeto dessa sala, nada
sabemos; apenas podemos imaginá-los. Uma boulê (oubouleutérion) grega era,
normalmente, um edifício (ligeiramente) retangular. Tinha os assentos em
semicírculo como num teatro, ou direitos e em 3 lados, e um teto de madeira
suportado ou não por colunas. Neste caso, resta, também, imaginar as paredes
de «pedras talhadas» com as bossagens típicas dos edifícios
herodianos. Naturalmente, a cadeira do sumo sacerdote, ao fundo, seria mais
saliente.
Talvez esta sala deve ser
identificada com o chamado Átrio dos Capitéis ou Átrio Maçónico. É uma sala de
25 m por 18 m, coberta com abóbada de berço lisa e tendo pilastras nas paredes.
Como é de esperar, também a
descrição que a Mishnáh faz do funcionamento do Sinédrio não condiz
com o desenrolar da paixão de Jesus.
Existe,
“porém, em Jerusalém, próximo à [porta] Probática, uma piscina, chamada em
hebraico Bezata, tendo cinco pórticos.»(Jo 5, 2-4). Esta piscina, situada a
norte do templo, era formada por dois tanques de uns 13 m de profundidade,
formando um quadrado irregular de cerca de 100 m de comprimento por 80 m e 62 m
de largura. O tanque meridional é maior que o tanque setentrional. Cercando
estes tanques, havia quatro pórticos e havia ainda um 5.º pórtico no espaço
entre os dois tanques. Em torno destes tanques, encontram-se restos de várias
banheiras individuais, com alguns degraus. É natural que os paralíticos se
atirassem, não à piscina, com 13 m de profundidade, mas a estas
banheiras. O tanque setentrional ficava a um nível superior, donde se pode
supor que, de tempos a tempos, poderia jorrar daí água para o tanque
meridional.
As
Torres das Muralhas
As torres ultrapassavam o
muro em 20 côvados de largura e em 20 côvados de altura. Eram quadradas e
maciças como o próprio muro. Pelo ajuste e beleza das pedras, elas nada
diferiam de um templo.
Por cima da parte maciça das
torres, que perfazia 20 côvados, havia salas magníficas, e, por cima, cisternas
para captar as águas da chuva. Cada torre tinha largas
escadas redondas.
A terceira muralha tinha 90
torres deste género, e as cortinas (= muralhas) entre elas
estendiam-se por 200 côvados.
A muralha intermédia era
marcada com cerca de 14 torres e a antiga com 60.
Por mais admirável que fosse
o conjunto da terceira muralha, mais maravilhosa ainda de erguia no ângulo
noroeste da torre Pséphinos, perto da qual Tito acampou. Com a altura de
70 côvados, (esta torre) permitia vislumbrar, ao nascer do sol, a
Arábia e os últimos limites do território dos hebreus até ao mar. Era uma torre
octogonal.
(B. J. V, 142 - 160)
As
torres poderiam ter telhados, donde a água da chuva seria recolhida para
cisternas interiores. (Cisternas a céu aberto no topo delas fariam evaporar
facilmente a água recolhida!) Talvez Josefo queira referir-se a ameias e a
merlões, que, encobrindo, em torno, os telhados das torres, podiam dar a ideia
de tanques.
Sobre os 20 CV da base
maciça, haveria 2 andares de 10 CV de altura cada um, para perfazer os 60 pés
de altura (= 40 CV) que Tácito indica. As escadas em caracol estariam
inseridas dentro das paredes das torres.
Não
se conhecem vestígios de nenhuma torre octogonal, neste ângulo; contudo, a sua
base poderia ser quadrada.
Juntamente com a terceira
muralha, a torre Pséphinos foi construída em época posterior à dos
Evangelhos.
Nenhum comentário:
Write comentários